Texto: Ana Ornelas | Revisão: Felipe dos Santos | Fotos: José Irani
Entre os dias 3 e 6 de junho, a Unicamp recebeu as artistas Guadalupe Carrizo, da Argentina, e Daniela Serna, da Colômbia, para uma residência artística com foco em ecologia e práticas coletivas. Selecionadas pelo Edital DCult/Santander 2024, promovido pela Pró-reitoria de Extensão, Esporte e Cultura (ProEEC), a atividade integrou o Programa de Artistas Estrangeiros e resultou na segunda edição das Jornadas de Ecologia Artística da Unicamp, um ciclo de oficinas, seminários e ações colaborativas que abordaram temas como meio ambiente, linguagem, arte e resistência.
As artistas se conheceram em uma residência com o mesmo tema, da qual participaram há alguns. Assim, a proposta do edital foi vista como uma continuação do trabalho de militância ambiental e arte contemporânea. “A arte, para mim, é esse espaço de conversa com o outro. É onde a gente pode se escutar, construir algo comum e imaginar outras formas de viver e resistir. Eu vim da militância ecologista e, ao longo dos anos, percebi que minha atuação como artista podia caminhar junto disso, não como coisas separadas, mas como um só gesto de cuidado e transformação”, explicou Guadalupe, educadora e pesquisadora de práticas artístico-ambientais na América Latina.

Durante os dias de residência, elas coordenaram um ciclo de seminários e oficinas que reuniu ativistas e artistas de diferentes países. Para Daniela, artista visual e professora, com formação em literatura comparada, foi interessante notar que todos estavam engajados em pensar novas linguagens para os desafios ecológicos atuais. “O mais bonito foi ver como, mesmo com dificuldades técnicas ou de idioma, as pessoas estavam presentes, com atenção e desejo de entender o outro. Isso já é um ato político e poético”, completou.
Pensando em integrar a palavra, no sentido figurado, ao debate, Daniela explica que o significado depende do entendimento de quem escuta. “Quando a gente diz ‘água’, isso não significa a mesma coisa para todo mundo. Eu cresci nos Andes. Para mim, essa palavra vem carregada de uma memória muito específica. Para alguém no Rio de Janeiro, ou para a Guadalupe em Tucumán, tem outro peso, outra imagem. A palavra muda conforme a experiência de quem escuta”.

As oficinas, pensadas como laboratórios abertos, ocorreram de forma experimental. As artistas propuseram a prática de mapeamento emocional e caminhadas criativas pelo campus. “Na sexta, trabalhamos com o conceito da ‘deriva’, que convida à escuta dos espaços com o corpo inteiro, sem destino certo”, contou Daniela. Guadalupe completou: “Essa é uma prática artística, mas também acadêmica e ambientalista. Não dá para separar. A arte, quando vive assim, torna-se uma forma de escuta ativa do mundo e um convite a agir sobre ele”.