Texto: Thaís Alves e Gabriela Villen | Revisão: Felipe | Imagens: Rafael Fonseca
O projeto de extensão “Esgrima em Cadeira de Rodas”, da Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp, colocou nada menos do que dois atletas nas Paralimpíadas de Paris 2024. Os esgrimistas Rayssa V. C. Vera, ex-aluna da FEF, e Lenilson T. Oliveira, que veio para a Unicamp em busca de um esporte adaptado, compõem a delegação brasileira de esgrima de cadeira de rodas. Além dos atletas, existem mais de 20 profissionais, entre docentes, pesquisadores, estudantes e ex-alunos da Unicamp, nos Jogos, em várias funções nos Comitês Paralímpicos Internacional (IPC) e Brasileiro (CPB). A trajetória que culminou nessa participação de destaque começou há mais de três décadas, quando a FEF passou a oferecer disciplinas voltadas para esportes adaptados e, em 1990, criou o pioneiro Departamento de Estudos da Atividade Adaptada (Deafa), o primeiro do tipo nas Américas.
“Tivemos projetos de natação, de atletismo, de bocha, de handball [adaptados]. Só para você ter uma ideia, na Paralimpíada do Rio de Janeiro, em 2016, e depois em Tóquio, em 2020, a base da seleção brasileira de rugby em cadeira de rodas era o time da Unicamp. Sério! Dos 15 jogadores convocados, 9 eram nossos, que começaram no projeto de extensão”, contou Edison Duarte, professor da (FEF) e um dos pioneiros na unidade no trabalho com as atividades físicas adaptadas. “Nós começamos em 1987, com um projeto de extensão para pessoas com deficiência. Começaram cinco pessoas em cadeira de rodas aqui”, lembrou orgulhoso.
Professor Edison Duarte é um dos pioneiros no incentivo aos esportes adaptados no meio acadêmico.
Segundo ele, a esgrima em cadeiras de rodas brasileira começou aqui. “O professor Valber [Valber Nazareth, instrutor de esgrima da Academia das Forças Aéreas] falou: ‘Olha, Edison, nós não temos aqui no Brasil esgrima em cadeira de rodas. Tem uma atleta brasileira que joga pelo Brasil, ela mora nos Estados Unidos, mas no Brasil nós não temos nada’. Eu falei: ‘Bom, então vamos começar!’. Aí nós começamos a esgrima em cadeira de rodas”, relatou. “ Hoje, nós temos 200 esgrimistas no país, medalha de ouro em Londres, medalha de prata em Tóquio, e começou com o trabalho aqui na universidade”, destacou.
Para o pró-reitor de Extensão, Esporte e Cultura (ProEEC), Fernando Coelho, a atuação da Unicamp nas Paralimpíadas é motivo de orgulho e uma afirmação do papel da extensão universitária. “Todo esse trabalho tem como principal característica conversar com a comunidade, entender as dificuldades, fazer inclusão. Isso é fundamental. Eu fico realmente muito contente e muito orgulhoso de a universidade ter dado contribuição dessa natureza para algo que é muito relevante”, afirmou.
Conforme destacou o diretor de Esportes da ProEEC, a FEF da Unicamp é a única faculdade de educação física no país com uma área específica, na pós-graduação, dedicada a estudar pessoas com deficiência. “Isso tem trazido frutos para o Brasil, porque a grande maioria das pessoas que trabalha no comitê paralímpico brasileiro vem do nosso programa. Tem contribuído para a melhora dos treinadores e da ciência que tem por trás dos treinamentos”, afirmou.
Do ponto de vista dos estudantes, a atuação da FEF nos esportes adaptados abre novas possibilidades de trabalho, além de aprendizados profundos sobre a relação com o outro e com sua própria formação. “Antes de você pensar no que vai estudar ou trabalhar, a gente tem o convívio com as pessoas com deficiência, exercendo uma atividade funcional, que é uma atividade comum a todos. Isso já vai trazendo uma aproximação com a área. A gente tem a oportunidade de vivenciar, dentro da faculdade, nas disciplinas e na extensão, o esporte adaptado e essa modalidade em alto rendimento, que é o esporte paralímpico. É como uma lupa mesmo, mostrando as possibilidades dentro disso”, afirmou Thalia Gonçalves Santos, doutoranda da FEF na área de Atividade Física Adaptada.
Thalita conta como nos projetos de extensão os estudantes atuam como monitores e professores, sempre sob supervisão docente, tendo contato direto com as pessoas que vão fazer a prática das atividades adaptadas e as primeiras experiências práticas em docência.
Neste semestre, a FEF ofereceu cursos de extensão em Esportes Adaptados Para Pessoas Com Deficiência (PCD) em cinco modalidades: handebol em cadeira de rodas, parabadminton, bocha paralímpica e natação paralímpica. Os cursos são oferecidos semestralmente e nos períodos de férias e acontecem no ginásio da Faculdade.
Registros do treino que aconteceu no dia 30/08 no ginásio da FEF.
Além dos cursos, a FEF promove eventos e campeonatos voltados a pessoas com deficiência. Dentre eles o Festival de Esportes Adaptados (“Adapta FEF”), no qual escolas da região de Campinas, que têm crianças com deficiência, são convidadas a vivenciar atividades como ginástica, bocha, atletismo, e natação. Entre os dias 7 e 10 de novembro, a FEF receberá mais de 300 atletas paraesgrimistas, incluindo esgrima convencional e esgrima de cadeira de rodas.
Confira a baixo os nomes e as funções dos atletas e profissionais que fazem parte ou passaram pela Unicamp e estão nos Jogos Paralimpicos de Paris 2024:
Atletas
- Rayssa V. C. Vera – Esgrima de cadeira de rodas
- Lenilson T. Oliveira – Esgrima de cadeira de rodas
Comitê Paralímpico Internacional (IPC)
- Profa. Manuela Bailão – observadora para a organização dos Jogos Paralímpicos de Los Angeles 2028
- Profa. Tatiane J. Miranda – auxiliar do diretor técnico de esportes geral do IPC
- Profa. Dra. Mariana Gomes (docente do DEAFA) – está, a convite do IPC, fazendo coleta de dados para sua pesquisa.
- Profa. Dra. Jacqueline Patatas – gerente de alto desempenho da seleção de rugby em cadeira de rodas do Canadá.
Participando pelo Comitê Paralímpico Brasilerio (CPB)
- Profissionais formados pela FEF:
- Jonas Freire – chefe de missão e diretor técnico do CPB
- João Paulo Casteleti – subchefe de missão e coordenador de classificação do CPB
- Ricardo S Melo – subchefe de missão
- Marilia Silva – fisioterapeuta do CPB
- Samuel Silva – cientista do esporte do CPB
- Thiago Lourenco – cientista do esporte (atletismo)
- Alex Sabino – treinador (atletismo)
- Fabio Silva – treinador (atletismo)
- Danilo Morales – assistente de coordenação (atletismo)
- Luis Gustavo Santos – coordenador de modalidade (paracanoagem)
- Leonardo Maiola – coordenador de modalidade (natação )
- Henrique Freitas – preparador físico (natação)
- Augusto Barbosa – biomecanico (natação)
- Alessandro Tosim – treinador (goalball feminino)
- Felipe C. Campos – preparador físico (goalball feminino)
- Ex-alunos da Faculdade de Ciências Médicas (FCM):
- Hésojy Silva – médico chefe do CPB
- Andrea Miranda – médica da equipe de ciclismo
- Mauro Meloni – fisioterapeuta da equipe de atletismo
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