Programa Pampa investiga e atua na BR-319 no interior do Amazonas

Texto: Ana Ornelas | Fotos: José Irani e Arquivo Pessoal | Revisão: Felipe dos Santos 

Igapó-Açu é uma comunidade composta por 75 famílias situadas às margens da BR-319, no interior do Amazonas, uma região onde as condições de saúde são notadamente precárias. Apesar das adversidades, os moradores afirmam estar “contentes com o que têm”, conforme destaca José Luiz Módena, virologista do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp. O projeto teve origem em uma pesquisa conduzida por Módena sobre vírus em comunidades locais e foi posteriormente ampliado como uma iniciativa da Pró-Reitoria de Extensão, Esporte e Cultura (ProEEC). Com o apoio financeiro para o estudo dos vírus da região, Módena e outros cinco especialistas foram convocados pelo professor Fernando Coelho para integrar o Programa Pampa, desenvolvido em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Além do especialista em virologia, a equipe contou com profissionais das áreas de odontologia, enfermagem, ecologia e engenharia ambiental, garantindo uma abordagem interdisciplinar e abrangente para a iniciativa.

Durante cinco dias, a equipe esteve em Igapó-Açu desenvolvendo ações voltadas à promoção da saúde e as condições sanitárias da comunidade. Mariana Agostinho Rodrigues e Leila Tassia Pagamicce, dentista e enfermeira do Centro de Saúde da Comunidade (CECOM), respectivamente, compartilharam suas experiências na promoção preventiva da saúde. Além de realizarem instruções sobre higiene bucal, distribuíram escovas e pastas de dente aos moradores, reforçando a importância desses cuidados diários. “Às vezes esquecemos que podemos oferecer pouco, mas isso já é muito. A realidade da comunidade é muito desafiadora. O médico mais próximo está localizado a aproximadamente três horas de carro, o que dificulta atendimentos emergenciais. Mas gosto de reforçar que nós saímos com muito mais do que levamos, aprendemos muito com a comunidade”, contou a dentista. 

Mariana Agostinho Rodrigues durante o Programa Pampa. (Foto: Arquivo Pessoal)

No âmbito ambiental, as engenheiras Luana Mattos de Oliveira e Viviane Pereira Alves realizaram um diagnóstico das condições sanitárias da região. Um dos principais problemas observados foi a falta de sanitários adequados. “A maioria dos moradores defeca em áreas próximas ao rio, cuja água é utilizada para banho, consumo e outras necessidades diárias. Além dos riscos sanitários, essa prática também expõe a população a perigos naturais, como ataques de animais e acidentes envolvendo crianças desacompanhadas”, explicou Luana. O descarte inadequado de resíduos sólidos, acumulados em lixões a céu aberto, agrava ainda mais a situação ambiental e de saúde pública.

Outro fator que impacta diretamente a vida dos moradores são os ciclos extremos da natureza. A região enfrenta períodos de enchentes severas, que inviabilizam a locomoção, seguidos por períodos de seca intensa, que dificultam o acesso à água potável e a outros recursos essenciais. Para José Luiz Módena, a compreensão dessas condições exige uma “escuta atenta às necessidades da comunidade, fundamental para a implementação de soluções eficazes e sustentáveis.”

Casas com palafitas construídas para o período de enchentes. (Foto: Arquivo Pessoal)

Além dos estudos voltados à saúde e ao meio ambiente, a pesquisa sobre zoonoses também foi um dos focos do projeto. Gabriel de Paula Machado Storolli, mestrando em Ecologia pelo IB, realizou a coleta de dados sobre morcegos e a incidência do vírus da raiva na região. No entanto, constatou uma baixa diversidade de espécies, o que pode estar relacionado ao impacto ambiental e à redução da biodiversidade local. “Muitos caminhões passam pela rodovia e soltam muita poeira por conta da terra, esse pode ser um fator impactante além do desmatamento”, contou. 

Programa Pampa no futuro

Diante das observações e desafios identificados, os profissionais envolvidos vislumbram a ampliação do projeto no futuro. A intenção é estruturar uma iniciativa de extensão de maior porte, que envolva a participação de alunos de graduação e possibilite um acompanhamento contínuo da comunidade. “Eu acho que essa experiência é muito necessária e única, principalmente para nós que viemos de ambientes urbanos e com uma mente já formada do que consideramos o jeito ‘certo’ e ‘errado’ de viver. Para um aluno de graduação, a formação pessoal e profissional que essa vivência pode trazer é imensurável”, comentou Luana Mattos. 

Grupo de profissionais que participaram do Programa Pampa. (Foto: José Irani)
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