Pesquisador argentino discute o som como ferramenta de transformação e resistência

Texto: Ana Ornelas | Revisão: Felipe dos Santos | Foto: José Irani

Transformar o som em ferramenta de resistência é a proposta do professor e pesquisador argentino Pablo Daniel Ramos, que apresenta a palestra “O som como lugar de disputas: práticas de resistência no espaço sonoro”, na próxima terça-feira (6 de maio), às 10 horas, na Sala 03 da Pós-Graduação do Instituto de Artes da Unicamp. Especialista em comunicação e arte sonora, Ramos está atualmente no Brasil como bolsista nda Diretoria de Cultura (DCult) da Unicamp, desenvolvendo projetos sobre conflitos socioambientais e práticas de escuta crítica. “Escutar já é intervir. Não existe uma escuta neutra; toda escuta é participativa e transformadora”, afirma o pesquisador, que visa a refletir sobre sua importância para o fortalecimento da memória coletiva e da justiça ecológica na América Latina.

Na palestra, o professor destaca que o som vai muito além de uma dimensão estética ou informativa. “Ele é parte vital da experiência humana, abrangendo o aspecto antropológico, social e biológico”, destaca. De acordo com sua pesquisa, a investigação das práticas sonoras revela como os espaços se transformam em campos de disputa de poder e da memória, utilizados como instrumentos para resistir aos discursos hegemônicos e à devastação ecológica.

Crianças de Córdoba em protesto contra o desmatamento da região. (Foto: Ecos Córdoba)

Com mais de 30 anos de experiência na comunicação e na rádio, tendo fundado rádios comunitários e universitários, Ramos enfatiza que “o trabalho com o som sempre foi também um trabalho de resistência e de preservação da cultura”. Essa trajetória o levou a mapear e analisar, em Córdoba, práticas que resgatam identidades historicamente marginalizadas, integrando a arte sonora a ações de intervenção e à construção de narrativas alternativas.

Ouça a peça “Somos el Monte que marcha – Collage sonoro”, produzida a partir da pesquisa.

Dessa forma, o pesquisador compartilha histórias das resistências que estudou. Em uma delas, mães de crianças autistas conseguiram suspender temporariamente as obras de uma rodovia que atravessaria a serra de Córdoba. Sensíveis ao ruído das explosões usadas na construção, as crianças foram diretamente afetadas pela mudança sonora no território. “Essas mães colocaram o impacto sonoro no centro da discussão ambiental, algo que raramente é considerado nos estudos de impacto tradicional”, relata. 

Pablo Daniel Ramos, palestrante do workshop “O som como lugar de disputas: práticas de resistência no espaço sonoro”. (Foto: José Irani)

Outra frente de resistência sonora destacada por ele é a atuação dos povos originários da região. Reivindicando suas identidades históricas e espirituais, eles passaram a integrar as manifestações com seus instrumentos tradicionais, seus cantos e sua língua nativa. “Eles mostraram que a destruição ambiental também é uma violação cultural, porque o território faz parte inseparável de suas vidas e da sua cosmovisão”, explica.

Além da palestra, o professor também desenvolve um projeto de podcast documental que, em parceria com núcleos de pesquisa da Unicamp – como o LABTERRA, NEPAM, LABJOR e o próprio NICS –, mapeia conflitos socioambientais em Campinas e região. Em uma fala emblemática, Ramos explica que “a escuta não é passiva, ela é uma prática que se abre, se transforma e nos impulsiona a repensar nossa realidade”. Essa visão crítica sustenta tanto sua atuação em campo quanto suas iniciativas de intercâmbio acadêmico. Para ele, o desafio de intervir através do som é também um chamado à sensibilidade: “Quando o discurso racional encontra seu limite, é a sensibilidade do som que nos mobiliza para a mudança”, afirma. 

 

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