Texto: Ana Ornelas | Revisão: Felipe dos Santos | Fotos: Antônio Scarpinetti
O Ginásio Multidisciplinar da Unicamp (GMU) se transformou em um espaço de integração cultural durante o Festival de Budo, realizado na última sexta-feira (06/06). Com apoio do Consulado Geral do Japão e da Pró-Reitoria de Extensão, Esporte e Cultura (ProEEC) e da Diretoria de Esportes, o evento celebrou 130 anos de amizade entre Brasil e Japão e marcou os 40 anos da Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp, responsável pela organização. A programação reuniu competições e demonstrações de judô, karatê, aikido e kendo, combinando ensino, pesquisa e extensão em uma experiência aberta à comunidade. O festival reuniu cerca de 300 participantes, entre atletas, estudantes, professores e visitantes da comunidade externa.
O termo “budo” designa as artes marciais japonesas, cuja prática no Brasil remonta ao início do século XIX, com a chegada dos primeiros imigrantes nipônicos. Atualmente, tais modalidades são reconhecidas não apenas como modalidades esportivas, mas também como práticas educativas e filosóficas, valorizadas em diversos contextos sociais e pedagógicos.

A iniciativa foi promovida a partir da disciplina de Lutas da FEF, sob coordenação do professor Luiz Gustavo Bonatto Rufino. Segundo ele, a proposta surgiu como uma forma de integrar a curricularização da extensão à prática esportiva e à formação cidadã. “Não é qualquer competição. O foco foi a inclusão, o acesso e o encontro entre saberes. O próprio evento é uma forma de pesquisa e ação coletiva, planejada desde o início pelos estudantes”, destacou o docente, que também desenvolve estudos acadêmicos na área.
Para completar a experiência, os alunos da graduação criaram comissões internas, planejaram a logística e participaram ativamente de todas as etapas do festival. Kayke Santana de Lima, do segundo ano, afirmou ter vivenciado uma revolução em sua perspectiva no que se refere à relação entre teoria e prática. “A gente ficou assustado no começo, mas mergulhou de cabeça. É diferente quando você vê que está fazendo parte de algo tão grande”, contou. Ele também destacou a importância da extensão universitária em trazer participantes externos à cidade de Campinas, ampliando o alcance social da atividade.
Assim, além de um ambiente competitivo, o festival foi pensado como um momento de celebração cultural. O apoio do Consulado Geral do Japão se deu no marco simbólico dos 130 anos da imigração japonesa no Brasil, o que, para os organizadores, reforçou a importância da ação como ponte entre culturas. “As artes marciais são formas tradicionais de expressão cultural que também comunicam valores como respeito, disciplina e cooperação”, disse o professor Rufino.

Tiago Oviedo Frosi, também organizador do evento e responsável pelo time de karatê da universidade, acredita que o festival ajudou a consolidar a trajetória da equipe, que vem se fortalecendo desde 2022 e já conta com dez atletas classificados para o Pan-Americano, alguns deles membros da Seleção Brasileira. “Temos gente que treina por lazer e outros que treinam seis vezes por semana. O importante é que o esporte está vivo, e esse evento mostrou isso com clareza”, afirmou.
A presença de Fernando Vanin, Secretário de Esportes e Lazer de Campinas, reforçou a dimensão simbólica do evento. Desde 1982, Campinas mantém uma forte ligação com o Japão, sendo considerada uma “cidade-irmã” da província de Gifu, termo que se refere ao vínculo entre duas ou mais cidades, mesmo em países diferentes, que estabelecem um acordo de cooperação com vistas a estreitar laços em áreas como economia, cultura, turismo e educação. Vanin afirma que o esporte apresenta-se como um canal privilegiado para reforçar essa relação, destacando ainda a relevância pedagógica das artes marciais, que, em suas palavras, “trazem uma filosofia que amplia o horizonte ético e emocional dos praticantes”.

Para Renato Barroso, diretor de esportes da ProEEC, a ação é exemplar ao mobilizar diferentes públicos e demonstrar como o esporte pode funcionar como elo entre universidade e sociedade. “A criação da diretoria teve como objetivo incentivar eventos como este, e estamos muito felizes com os resultados. Desde então, aumentou significativamente a procura por apoio institucional para atividades esportivas e culturais dentro da Unicamp”, afirmou
Representando a Reitoria, o professor Arnaldo Pinto Junior também participou da abertura do evento. Segundo ele, o festival reafirma o papel da Unicamp como espaço de diálogo entre diferentes tradições. “Estamos falando de culturas orientais e ocidentais se encontrando em torno do esporte. Isso tem valor formativo, social e simbólico. Ao sediar ações como essa, a universidade se coloca como mediadora entre o conhecimento acadêmico e os interesses da sociedade”, disse.