Texto: Ana Ornelas | Revisão: Felipe dos Santos | Fotos: Dário Crispim
No último sábado, 03/05, a Unicamp foi palco da primeira edição do “Encontro Arte e Território: Extensão, Prática Artística e Resistência”, que reuniu crianças, adolescentes e adultos das comunidades Menino Chorão (Campinas) e Marielle Vive (Valinhos) para um dia de oficinas, apresentações artísticas e rodas de conversa. A iniciativa foi idealizada pelo coletivo T.E.I.M.A (sigla para Território, Educação, Interdisciplinaridade, Movimento e Arte), vinculado ao Departamento de Artes Cênicas do Instituto de Artes (IA), e contou com apoio institucional da Pró-Reitoria de Extensão, Esporte e Cultura (ProEEC), por meio do Edital Arte e Cultura 2024, da Diretoria de Cultura (Dcult).
A programação incluiu oficinas de circo, grafite e teatro, pensadas para diferentes faixas etárias, além de dois espetáculos: Passarinhos, encenado por estudantes do assentamento Bela Vista (Araraquara), e Forró da Palhaça Papoula, uma intervenção cênico-musical que celebra a cultura popular.

Segundo a professora Alice Possani, coordenadora do projeto, o evento nasceu de um vínculo construído com tempo e cuidado. “A gente vai muito na casa das pessoas e tinha esse desejo de que elas também viessem conhecer a nossa. A Unicamp deve ser uma possibilidade para esses jovens. Esse encontro foi também uma forma de troca entre os territórios, onde um aprende com o outro”, explicou.
Mais do que um evento pontual, o Encontro reflete uma trajetória de extensão que aposta na continuidade e na presença. “É um tipo de evento que só dá certo com tempo, com relação construída. Para as crianças virem, o convite chegou indo de casa em casa. Nós não somos escola, nós somos um coletivo que está lá há três anos. Eles sabem quem a gente é”, afirmou Alice.

Um dos destaques da programação foi o envolvimento dos adolescentes, público que, segundo os organizadores, costuma se mostrar mais afastado das atividades realizadas dentro das comunidades. Para Érica Natalense, integrante do T.E.I.M.A, ver essa mudança foi marcante: “São jovens que normalmente ficam no canto, que dizem ‘não quero participar’. E dessa vez estavam lá no grafite, engajados”. A recepção ao espetáculo Passarinhos também provocou transformações. “Vi eles assistindo atentos, se movendo, interessados. Acho que isso mostra uma abertura para novas possibilidades, e para mim foi muito forte ver isso acontecendo”, completou Érica.
As oficinas da tarde também trouxeram momentos de forte impacto coletivo. Em uma das cenas de teatro do oprimido, as mulheres adultas reagiram à encenação de uma situação de opressão, levantando-se em apoio à personagem em cena. “Todo mundo estava em cena. Pensar que esses territórios, que são oprimidos, estão elaborando coletivamente o não aceitar a opressão através do teatro é muito potente”, contou Eliéverton Filizatti, também integrante da equipe.