Texto: Ana Ornelas | Revisão: Felipe dos Santos | Fotos: Karen Menegheti (FCM Comunicação) e Carlos Tavares
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) celebrou, nos dias 22 e 29 de março, a reinauguração da Escola Popular Melina Melão, no Assentamento Milton Santos, espaço dedicado à educação de jovens e adultos no interior de São Paulo. O evento emocionou os participantes ao resgatar memórias, reafirmar a luta coletiva e reforçar o compromisso com o letramento popular. A nova estrutura da escola conta com uma sala de informática equipada com computadores, fruto de doações viabilizadas pela Pró-Reitoria de Extensão, Esporte e Cultura (ProEEC) da Unicamp, além de acesso à internet, disponibilizado pela Adunicamp, que assumiu o custeio do serviço.

Segundo o pró-reitor da ProEEC, Fernando Coelho, a escola surgiu como resposta direta a uma demanda observada na primeira visita da universidade ao assentamento Milton Santos. “Eu me lembro que eles estavam fazendo um esforço coletivo para arrumar o espaço, porque o grande objetivo era garantir um local onde as crianças pudessem fazer os seus deveres de escola e onde o pessoal da EJA (Educação de Jovens e Adultos) pudesse desenvolver as suas atividades”, relatou Coelho.
A escola leva o nome de Melina Melão em homenagem a uma ex-professora transexual que atuou junto ao movimento e faleceu nos últimos anos. Sua trajetória como educadora e militante inspirou a comunidade, que fez questão de eternizar sua contribuição ao batizar o espaço com seu nome.

A programação da cerimônia teve início com um ato simbólico: a plantação de árvores em memória dos militantes do MST que faleceram recentemente. Cada muda representava a vida e a luta de quem se dedicou à construção de um Brasil mais justo. A professora Vanilde Esquerdo, da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp e coordenadora do Programa Terra, uma iniciativa de extensão universitária, vinculada à ProEEC, que atua em parceria com movimentos sociais do campo, destacou a importância do momento para o movimento diante do contexto social atual. “Esse era um sonho de muitos anos. A escola atua diretamente no letramento e na alfabetização de jovens e adultos, e a Unicamp tem um papel muito importante nesse processo”, afirmou.
A reconstrução da escola foi fruto de um longo processo coletivo. Durante anos, voluntários se reuniram em mutirões semanais para ajudar nas obras, especialmente na cobertura do prédio. Esses trabalhadores ficaram conhecidos carinhosamente como os “serventes de Melina”, em homenagem à professora que dá nome à escola.

Para Coelho, a reinauguração da escola representa mais do que uma conquista estrutural. É um marco simbólico de transformação social por meio da educação. Após o evento, o pró-reitor compartilhou o relato de um morador alfabetizado no espaço, que reforçou o impacto do projeto. “Uma das pessoas fez um comentário que marca este momento: ‘parece que eu voltei a viver. Porque agora entro no mercado e ninguém me engana mais, que eu sei o que está escrito’.” Coelho também destacou o papel da universidade pública nesse processo de mudança social. “A extensão pode ser um instrumento de transformação da sociedade e de incorporar cidadania na formação dos nossos estudantes.”
Segundo Vanilde, a partir de abril, a unidade passará a utilizar o método cubano de alfabetização “Yo, sí puedo” (“Sim, eu posso”), reconhecido internacionalmente por sua eficácia no ensino de leitura e escrita para jovens e adultos em situação de vulnerabilidade. O método já foi implementado em diversos países e utiliza meios audiovisuais para transmitir conhecimento.