Texto: Ana Ornelas | Revisão: Felipe dos Santos | Fotos: José Irani
“A cultura é o centro da aprendizagem do convívio. Especialmente no Brasil, tratá-la como acessória, relegando-a aos seus aspectos meramente recreativos, é um desperdício.” Especialmente no Brasil, tratá-la como periférica é um desperdício.” A declaração feita por Eduardo Okamoto, novo responsável pela Diretoria de Cultura (DCult) da Pró-reitoria de Extensão, Esporte e Cultura (ProEEC) da Unicamp, revela parte do que o professor planeja atingir durante sua gestão. Ator e docente no curso de Artes Cênicas do Instituto de Artes (IA), o diretor traz uma visão de cultura que não se resume a programações artísticas ocasionais, mas que se integra à educação e à construção de valores na sociedade.
O professor destacou a agenda consolidada, com orçamento previsto e ações em andamento, que recebeu da gestão anterior, que o permite dar continuidade e aprimorar. “Já estamos conseguindo pensar em propostas novas para o ano que vem, justamente porque a casa estava arrumada. “A prioridade, neste primeiro momento, é garantir a manutenção de ações, como editais, eventos artísticos, apoios a projetos, pensar a gestão dos espaços culturais como a Casa do Lago e o CIS-Guanabara”, contou.

Okamoto defende uma concepção de cultura como eixo central no desenvolvimento econômico, social e democrático do país, visão que se alinha à sua formação e atuação no campo das artes. Para ele, a universidade precisa assumir um papel de liderança nesse processo. “A universidade deve ser protagonista na construção de políticas culturais contínuas, algo que muitas vezes falha em instâncias governamentais por falta de investimento e entendimento.”
Ao refletir sobre o papel da universidade no século XXI, o diretor reforça que a formação acadêmica não se restringe à técnica ou aos conteúdos aprendidos dentro de uma sala de aula. “O professor não é mais a única referência. A formação de um estudante hoje se dá em múltiplas frentes, e a cultura é uma delas. A cultura é inesgotável. Ninguém completa a sua formação cultural, ela está sempre em processo”, disse.
Em sua carreira como ator, Okamoto já apresentou espetáculos em diversos países, incluindo contextos de pós-guerra como o Kosovo. Essa experiência, segundo ele, evidenciou ainda mais o valor da cultura como potencial de reconstrução social. “Apresentei em um festival no Kosovo, pouco tempo depois de uma guerra civil. Em meio à precariedade, sem calefação e com cortes de energia durante as peças, o público aplaudia e esperava a energia voltar para recomeçar. Aquilo era mais que teatro. Era o povo dizendo: só vamos reconstruir nosso país se estivermos juntos nessa plateia.”
Frentes de atuação e editais
Segundo Edson Domingos Lisboa, conhecido como Edinho, técnico administrativo da DCult, a diretoria atua em três frentes principais: projetos próprios, editais e parcerias. Entre os projetos, destacam-se o Palco DCult e o Cine DCult, ações consolidadas que movimentam a cena artística universitária. Realizado desde 2021, o Palco DCult tem como principal objetivo sistematizar a promoção de apresentações musicais destinadas a toda a comunidade da universidade e ao seu entorno. A próxima edição acontece esta semana, no dia 5, com show do Cleyton Menezes Grupo na ADunicamp, às 20h. Já o Cine DCult, iniciado em 2022, promove a cultura cinematográfica dentro da Unicamp, por meio da apresentação de filmes ao ar livre ou em salas fechadas, acompanhados de debate com cineastas, professores, estudantes, cinéfilos, roteiristas ou simplesmente pessoas que gostam de cinema.

No campo dos editais, além do edital de fluxo contínuo da ProEEC, a DCult coordena chamadas específicas para fomentar a produção cultural na universidade. O principal deles é o Edital de Arte e Cultura, previsto para o segundo semestre deste ano, com execução das propostas selecionadas em 2026. Também estão em fase final de elaboração os editais Intervenção na Casa dos Saberes Ancestrais (com previsão de lançamento no segundo semestre deste ano, para execução ainda em 2025) e Me Leva, DCult (para transporte de estudantes, servidores e docentes a eventos externos, previsto segundo semestre deste ano, com execução em 2026).
Além dos editais, a DCult recebe pedidos de apoio pontuais, que podem ser encaminhados para avaliação para o e-mail (dcult@unicamp.com.br). Edinho destacou ainda as parcerias com órgãos externos como SESC, SESI e secretarias municipais de cultura da região, que ampliam o alcance das ações culturais para além da Unicamp. A 14º Bienal Sesc de Dança 2025, que acontecerá em setembro, por exemplo, trará programações gratuitas na Casa do Lago e no CIS-Guanabara.