Texto: Ana Ornelas | Foto: Divulgação
A Unicamp conquistou destaque internacional no International Genetically Engineered Machine (iGEM) 2025, realizado em outubro em Paris, a maior competição de biologia sintética do mundo, criada no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Com apoio da Pró-reitoria de Extensão, Esporte e Cultura (ProEEC), o time, coordenado pelos professores André Damasio e Elizabeth Bilsland, recebeu medalha de ouro, ficou entre os dez melhores projetos de pós-graduação e ainda foi premiado como o melhor projeto do mundo na categoria Alimentação e Nutrição. O grupo também foi indicado em outras competições especiais, como Melhor Vídeo, Melhores Práticas Humanas Integradas e Melhor Empreendedorismo.
O iGEM, criado em 2004, reúne equipes do mundo todo e funciona de um jeito diferente das competições tradicionais. As medalhas não são definidas comparando um time com outro, mas pelo cumprimento de uma série de tarefas que envolvem pesquisa, impacto social, comunicação, ética, modelagem, entre outros critérios. Segundo a professora Elizabeth Bilsland, do Instituto de Biologia (IB), “boa parte dos times não consegue cumprir nem os requisitos do bronze. Chegar ao ouro significa juntar ciência, tecnologia e responsabilidade social de forma muito madura.”

A Unicamp já tinha participado do iGEM em 2009 e 2011, anos em que também conquistou medalha de ouro, mas ficou mais de uma década sem competir. A partir da retomada em 2022, os estudantes criaram a Liga de Biologia Sintética do Instituto de Biologia, que hoje ajuda a organizar e treinar novos times, garantindo continuidade ao projeto. “A liga ajuda a manter uma memória e uma base de conhecimento para os novos estudantes. Antes, cada time que se formava começava do zero. Agora, existe continuidade”, destacou a professora.
O projeto apresentado este ano, chamado Pepcitrus, nasceu da iniciativa dos próprios alunos e busca enfrentar um problema que afeta diretamente a economia brasileira: as doenças que atacam laranjais, especialmente o greening (uma enfermidade que prejudica gravemente a citricultura), que já compromete plantações inteiras no estado de São Paulo. Inspirados em pesquisas sobre um peptídeo de defesa encontrado em um anfíbio do cerrado, os estudantes criaram formas de produzir essa molécula em laboratório.
Eles também mostraram que o fungo pode crescer usando o resíduo da indústria da laranja, criando um processo sustentável para toda a cadeia. “Os alunos construíram sistemas de produção em organismos distintos e ainda conseguiram usar o próprio resíduo da laranja para gerar uma solução possível para o problema”, explicou Elizabeth.

Para entender melhor as necessidades de quem trabalha com laranja, a equipe visitou mais de 90 lugares, incluindo fazendas, indústrias e laboratórios. Além dos experimentos, criaram um “nariz artificial” capaz de detectar a doença direto na folha da planta, inspirado em cães treinados que conseguem identificar árvores contaminadas pelo cheiro. O projeto envolveu alunos de biologia, física, economia, engenharia de alimentos e outras áreas, mostrando o caráter multidisciplinar da biologia sintética. “O time só funciona quando todas essas áreas conversam”, comentou a professora.
Com a proposta inovadora, o time da Unicamp ficou entre os dez melhores do mundo na categoria de pós-graduação entre 421 equipes participantes. Todo o material visual, incluindo o vídeo oficial, foi produzido pelos próprios alunos. “É tudo iniciativa deles. Eles criam a identidade visual, fazem a modelagem, o hardware, os estudos econômicos e as ações de extensão. Nós orientadores entramos mais como mentores”, afirmou Elizabeth com orgulho.

O impacto do iGEM vai além da competição. A professora conta que a participação no campeonato costuma abrir portas importantes para os alunos, especialmente em programas de pós-graduação no exterior. “Quando um aluno tenta um doutorado fora, uma das primeiras perguntas é se ele contribuiu para o time. Quem participa do iGEM mostra liderança, iniciativa e capacidade de trabalho. Isso pesa muito.”
Para divulgar o projeto, a equipe reúne-se no IB nesta quinta, 27 de novembro, com apresentação aberta e gratuita ao público, a partir das 12h30.