Texto: Ana Ornelas | Revisão: Felipe dos Santos | Fotos: Rafael Fonseca e Ivan Lucca
Nos dias 24, 25 e 26 de abril, o Coletivo Negro Drama (@negro.dram4), formado por estudantes negros do curso de Artes Cênicas (IA) da Unicamp , apresenta o espetáculo “Entre Macacos: Força que Vem de Muximba” (@entremacacos). A peça é fruto de um processo artístico colaborativo que surgiu dentro do coletivo, tendo como ponto de partida uma cena curta baseada na obra Macacos, de Clayton Nascimento, apresentada no Festival de Cenas Curtas.
Após essa primeira encenação, o grupo percebeu uma potência efervescente na criação e sentiu a ausência de produções que dialogassem diretamente com suas histórias e realidades. Foi nesse momento que nasceu a semente do espetáculo, uma obra feita por artistas negros, sobre suas vivências e para seu próprio povo, que hoje conta com apoio da Pró-reitoria de Extensão, Esporte e Cultura (ProEEC), por meio do edital de 2025 do Departamento de Cultura (DCult) da Unicamp.

Com dramaturgia assinada por Henrique Santos, Mayara Marcondes e Vênus Gaya, que também divide a direção com Nathália Barcelos, Entre Macacos mergulha em temas como racismo estrutural, ancestralidade, afeto, identidade e coletividade. A palavra “muximba”, de origem bantu, representa a força vital que sustenta as possibilidades de ser e existir, mesmo diante das violências cotidianas. “A gente queria contar nossas histórias de um jeito que não fosse atravessado só pela dor. A proposta da peça é criar um imaginário onde corpos negros possam sonhar, amar, criar e existir para além do sofrimento”, explica Vênus Gaya.
Mais do que um produto artístico, Entre Macacos é também um manifesto político e pedagógico. O coletivo destaca que a peça surge como forma de romper com o ciclo de exclusão enfrentado por estudantes negros dentro da universidade. “Antes de nós, não havia um coletivo de acolhimento para alunos negros nas artes cênicas da Unicamp. Criar esse espaço é garantir pertencimento, aprendizado e também oportunidades reais de atuação artística”, afirma Maria Clara Santos de Oliveira, integrante do elenco.

Na montagem, todos os participantes acumulam funções: atuam, produzem, escrevem, operam luz e som. A criação é colaborativa, com decisões tomadas em conjunto, desde o figurino até a escolha dos espaços de apresentação. Essa lógica rompe com a ideia de que toda obra nasce da genialidade de um único autor, valorizando a inteligência coletiva como motor da arte.
Para Nathan Gomes, ator do elenco, esse processo é mais do que um método de criação, é um gesto de resistência e formação. Ele descreve o projeto como um “afeto estratégico”, ou seja, um espaço que oferece não apenas acolhimento emocional, mas também desenvolvimento profissional. “Muitas vezes, estudantes negros não são chamados para projetos. Não por falta de capacidade, mas por falta de oportunidade. Aqui, a gente cria esse espaço para aprender e se preparar para o mundo artístico”, diz Nathan.

As apresentações ocorrem em três espaços de Campinas:
- 24 de abril: Departamento de Artes Cênicas da Unicamp, às 16h
- 25 de abril: Instituto de Artes da Unicamp (com intérprete de Libras), às 20h
- 26 de abril: Casa de Cultura Aquarela, às 20h
Levar o espetáculo para além dos muros da universidade é um gesto simbólico e essencial para o grupo. Como destaca Henrique Santos, apresentar-se em locais como a Casa de Cultura Aquarela reforça a conexão com o público que vivencia realidades semelhantes às narradas no palco. “Quando a gente apresentou para a periferia, era como se a gente estivesse falando com outras versões de nós mesmos.”
Serviços:
Duração: 50min.
Classificação indicativa: 12 anos.
Entrada gratuita com contribuição voluntária e espontânea no chapéu.
É necessário chegar uma hora antes da apresentação para retirada dos ingressos.
Ficha técnica:
Direção: Nathália Barcelos e Vênus Gaya.
Dramaturgia: Henrique Santos, Mayara Marcondes e Vênus Gaya.
Elenco: Amaria, Isabella Caroline, Isabelli Maria, Henrique Santos, Mayara Marcondes e Nathan.
Iluminação: Breno Martins.
Operação de som e contrarregragem: Alycia Felix.