Texto e fotos: Ana Ornelas
Ao som das máquinas de costura e das conversas animadas que preenchem o Núcleo de Consciência Trans da Unicamp (NCT), o Ateliê TRANSmoras (ATM) transforma o espaço em um ambiente de aprendizado, acolhimento e criação coletiva. O programa “Direito, Renda e Vida”, idealizado pelo ATM e voltado para travestis, pessoas trans, mulheres negras, indígenas e periféricas, oferece aulas gratuitas que unem capacitação técnica, empoderamento social e sustentabilidade.
Iniciadas no dia 7 deste mês, em Campinas, as aulas buscam ampliar o acesso à formação profissional para grupos historicamente excluídos, aliando moda, economia e reaproveitamento de materiais. Financiado pela emenda parlamentar n° 43680020, da deputada Erika Hilton, o projeto conta também com o apoio da Pró-reitoria de Extensão, Esporte e Cultura (ProEEC) da Unicamp e integra os esforços da universidade para promover inclusão, garantir direitos e gerar renda para populações em situação de vulnerabilidade.
Para Paula Maria, aluna do curso, cada aula é uma descoberta. Antes de chegar ao ateliê, ela nunca havia utilizado uma máquina de costura. “Foi um desafio enorme, mas o mais legal foi poder olhar para o meu lado criativo com mais carinho. Cada aula é um respiro na rotina, saio daqui muito mais leve”, contou.
Além disso, Paula destaca que o aprendizado vai além da técnica. “O pessoal é incrível, tanto quem ensina quanto quem aprende junto. A gente conversa, ri, troca experiências e cria junto. É cansativo, mas é maravilhoso para a cabeça.”
Assim, para Antônia Moreira, presidenta do Conselho do ATM, a proposta do curso é fazer da moda uma ferramenta de transformação social. “Estamos criando roupas com materiais reaproveitados, pensando no meio ambiente e em novas formas de estar no mundo. Cada peça feita aqui carrega histórias e sonhos, mostrando que a moda pode ser também um espaço de inclusão, de empoderamento e de cuidado com a nossa terra”, explicou.
Antônia acrescenta que o objetivo é expandir a iniciativa, transformando o projeto em uma política pública que una capacitação profissional, sustentabilidade e geração de renda. “O curso está sendo super bem recebido, e queremos que essa experiência abra caminhos para que mais pessoas tenham acesso a oportunidades e para que a economia criativa seja cada vez mais diversa e inclusiva.”
Sobre o ATM
Fundado em 2013 pela estilista e ativista Vicenta Perrotta, o Ateliê TRANSmoras surgiu como ocupação na Moradia Estudantil da Unicamp e hoje celebra 12 anos de história e a conquista de um novo espaço físico, instalado junto ao NCT da Unicamp. A mudança representa a consolidação do projeto, que foi recentemente reconhecido como Ponto de Cultura pela Prefeitura Municipal de Campinas, por meio da Secretaria de Cultura e Turismo.
“Para nós não é apenas um selo, é a visibilidade que fortalece nossas raízes, amplifica nossas vozes e prova que nossa cultura é afeto, memória viva e ferramenta de transformação. Com o coração acelerado seguimos pulsando, ocupando e transmutando”, afirmou Vicenta, que também é presidenta do ATM.
Embora as atividades passem a ocorrer no novo endereço, o espaço original segue ativo e será transformado em um território de memória. Um acervo está sendo construído com apoio de projeto de extensão da Unicamp, coordenado pela professora Dora Maria Grassi, do Instituto de Biologia (IB), com a participação de seis bolsistas, responsáveis pela catalogação e preservação das peças do ateliê. A ação integra ainda um projeto contemplado pelo Programa de Ação Cultural (ProAC), em parceria com alunos de Arquitetura e Urbanismo (FECFAU) da Unicamp, para reformar o espaço e criar uma galeria de arte aberta e permanente.
