Texto: Ana Ornelas | Fotos: Rafa Kennedy
“Queremos promover, acima de tudo, uma formação cidadã a partir do empoderamento econômico.” A fala de Luara Souza de Oliveira, coordenadora de relações institucionais do Ateliê TRANSmoras (ATM), resume o propósito do novo projeto do coletivo, que terá início em agosto deste ano. Intitulado “Direitos, Renda e Vida”, o programa contempla uma série de ações formativas voltadas para travestis, pessoas trans, mulheres negras, indígenas, periféricas e trabalhadoras em geral, de 18 a 35 anos, e articula práticas de corte, costura e transmutação têxtil com a garantia de direitos, inclusão social e geração de renda.
Financiado pela emenda parlamentar n° 43680020, da deputada Erika Hilton, o projeto também conta com o apoio da Pró-reitoria de Extensão, Esporte e Cultura (ProEEC) da Unicamp. A iniciativa integra seus esforços para promover inclusão, garantia de direitos e geração de renda para populações em situação de vulnerabilidade.

O curso será realizado em formato híbrido, com atividades presenciais em Campinas e São Paulo e encontros remotos. Parte central do programa é o curso “Corte, costura e criação em transmutação têxtil”, que acontece de forma presencial no Núcleo de Consciência Trans (NCT) da Unicamp, entre os dias 7 de agosto e 21 de novembro. Com 139 horas de carga horária distribuídas em 15 semanas, as aulas serão realizadas às quintas e sextas-feiras, das 18h às 22h, e vão combinar práticas de costura com debates sobre memória, identidade e empoderamento. Além disso, a formação prevê visitas guiadas a espaços culturais, oficinas de fotografia aos finais de semana, ateliês abertos, desfile, feira e simpósio.
“A transmutação têxtil, conceito que guia nosso trabalho, dialoga com as vivências de corpos trans, indígenas e negros. No ateliê, buscamos ressignificar aquilo que antes seria descartado ou abandonado”, explicou Luara. Ao final, será apresentado um desfile com uma coleção de cada participante do curso.
O curso oferece 20 vagas para participantes e outras cinco para ouvintes em Campinas, com inscrições abertas até o dia 28 de julho, por meio deste formulário. Quatro participantes serão selecionadas ao final para receber um capital semente de R$2.400 cada, destinado ao investimento em seus próprios projetos autorais. Todas as pessoas selecionadas contarão com alimentação no local, certificado ao final do curso e auxílio transporte de R$120 por mês. A seleção será feita pela equipe pedagógica do ATM, com base nas respostas do formulário. O resultado será divulgado no dia 31 de julho, por e-mail e no Instagram do coletivo.

Espaço
Fundado em 2013 pela estilista e ativista Vicenta Perrotta, o Ateliê TRANSmoras surgiu como ocupação na Moradia Estudantil da Unicamp e hoje celebra 12 anos de história e a conquista de um novo espaço físico, instalado junto ao NCT da Unicamp. A mudança representa a consolidação do projeto, que foi recentemente reconhecido como Ponto de Cultura pela Prefeitura Municipal de Campinas, por meio da Secretaria de Cultura e Turismo. O ATM já desenvolveu projetos em parceria com iniciativas como a coletividade MARSHA!, Centro Cultural São Paulo, Instituto Tomie Ohtake, SESC-SP, Casa do Povo, TODXS e diversas outras instituições. Além de produzir arte, também faz política por meio da cultura, defendendo o direito de pessoas trans e travestis à existência, à autonomia e à prosperidade em seus territórios.
“Para nós não é apenas um selo, é a visibilidade que fortalece nossas raízes, amplifica nossas vozes e prova que nossa cultura é afeto, memória viva e ferramenta de transformação. Com o coração acelerado seguimos pulsando, ocupando e transmutando”, afirmou Vicenta, que também é presidenta do ATM.
Embora as atividades presenciais passem a ocorrer no novo endereço, o espaço original segue ativo e será transformado em um território de memória. Um acervo está sendo construído com apoio de projeto de extensão da Unicamp, coordenado pela professora Dora Maria Grassi, do Instituto de Biologia (IB), com a participação de seis bolsistas, responsáveis pela catalogação e preservação das peças do ateliê. A ação integra ainda um projeto contemplado pelo Programa de Ação Cultural (ProAC), em parceria com alunos de Arquitetura e Urbanismo (FECFAU) da Unicamp, para reformar o espaço e criar uma galeria de arte aberta e permanente.