60ª edição do Forproex Sudeste reforça papel da extensão na universidade pública

Texto: Ana Ornelas e Gabriela Villen | Revisão: Felipe dos Santos | Fotos: José Irani e Rafael Fonseca 

“A extensão universitária é uma estratégia valiosa para entender o papel da universidade pública na sociedade. Vivemos um momento político preocupante no Brasil e no mundo, com tentativas de retirada de recursos das universidades. Por isso, este evento é também um espaço de resistência, de apresentação de propostas e de fortalecimento das políticas públicas.” Foi com essa declaração que Fernando Coelho, pró-reitor de Extensão, Esporte e Cultura (ProEEC) da Unicamp, abriu a 60ª edição do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Instituições Públicas de Educação Superior da Região Sudeste (Forproex Sudeste), realizada entre os dias 2 e 4 de abril, na Casa do Lago. 

Fernando Coelho, pró-reitor da ProEEC e, ao seu lado, Lana Nascimento, presidenta do Forproex nacional.

O encontro, que reuniu representantes de instituições de ensino superior públicas da região, celebrou 60 edições de articulação regional em torno da extensão universitária e reforçou o seu papel como elo entre a produção acadêmica e as demandas da sociedade. Em meio a mesas de debate e apresentações culturais, a extensão foi tratada não apenas como uma diretriz acadêmica, mas como uma prática que transforma realidades, inclusive dentro das próprias instituições.

A presidenta do Forproex nacional, Lana Nascimento, também destacou esse potencial transformador, quando as ações estão comprometidas com os territórios. “Quando pensamos em sustentabilidade territorial, pesquisa, ensino e extensão em periferias e unidades de conservação, vemos o quanto a universidade pode e deve estar próxima da sociedade”, afirmou. Ela lembrou, inclusive, de projetos que surpreenderam por sua abordagem inovadora, como um programa desenvolvido na área de modelagem matemática que atua diretamente em escolas municipais, auxiliando em construção de cardápios, organização de horários e aplicação de soluções baseadas em tecnologia. “Foi uma apresentação linda, que mostra que até áreas consideradas mais técnicas e fechadas podem fazer extensão de forma significativa”, disse. 

Marjô Mariano (piano) e Laurie Oliveira (violão), durante apresentação cultural no Forproex Sudeste.
Duo Tatarana se apresenta durante intervalo das mesas de debate do Forproex Sudeste

A programação contou com mesas temáticas que discutiram os rumos da extensão no ensino superior sob diferentes enfoques. Confira a seguir um resumo de cada mesa apresentada.

Extensão e pós-graduação

A mesa de abertura abordou o tema da inserção da extensão universitária na pós-graduação, com foco na implementação do Programa de Extensão Universitária da Pós-Graduação (PROEXT-PG), lançado em 2023 pelos órgãos federais MEC, SESu e CAPES. A discussão girou em torno dos desafios e das possibilidades da integração entre extensão e pós-graduação, com destaque à necessidade de articulação institucional e à valorização das ações extensionistas.

Participaram da mesa o Prof. Dr. Marco Aurélio Cremasco (ProEEC-Unicamp), como mediador, além da Prof. Dra. Rosa Maria Mendes (UFRRJ) e da Prof. Dra. Lana Nascimento (presidenta do ForProex). Cremasco contextualizou o PROEXT-PG e apresentou modelos formativos recentes pautados em inovação, empreendedorismo e inserção social. Rosa Mendes compartilhou a experiência da UFRRJ com o programa, ressaltando a colaboração entre as pró-reitorias e os desafios relacionados ao gerenciamento e ao acompanhamento do PROEXT-PG. “Precisamos vencer essa ideia de que a pós-graduação não quer a extensão. Isso não aconteceu na UFRJ. A extensão está na pós. A sociedade exige. A pesquisa tem que se relacionar com a sociedade”, afirmou.

Lana Nascimento destacou a necessidade de valorização institucional da extensão e ponderou sobre a falta de consenso quanto à imprescindibilidade da extensão na pós-graduação. “Fazer com que o Proext-PG se fortaleça e seja longevo é uma luta desse Fórum”, afirmou. “A extensão vem para dar outro sentido à pesquisa, para consolidar uma formação sociorreferenciada e comprometida com a transformação social”, completou Lana.

À esquerda, Rosa Maria Mendes (UFRRJ), mediando a mesa Marco Aurélio Cremasco (ProEEC-Unicamp) e, à direita, Lana Nascimento.

Desafios da extensão para o futuro

A mesa trouxe um diagnóstico detalhado do cenário atual da extensão universitária no Brasil. A discussão girou em torno do papel da extensão na incorporação da extensão nos currículos da graduação e da pós-graduação, além de que a extensão poderia ser um fator importante avaliativo em uma instituição. 

Participaram da mesa Ulysses Tavares Teixeira, diretor de Avaliação da Educação Superior do INEP; Ana Inês Sousa, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, na mediação, Sandra Maria Antunes Nogueira, professora da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). De acordo com Teixeira, a extensão é “um componente essencial na formação dos estudantes e deve ser valorizada”. Além disso, Ana Inês complementa que “a avaliação da extensão da IES (Instituição de Ensino Superior) serve como demonstrativo de qualidade, seja ela quantitativa e/ou qualitativa”.

À esquerda, Ana Inês (UFRJ), mediando a mesa Sandra Maria Antunes Nogueira e, à direita, Ulysses Tavares Teixeira (INEP).

Comunicação, mídia e engajamento social

O painel discutiu a centralidade da comunicação na própria constituição da extensão, reforçando seu caráter dialógico, o que está no cerne da concepção de Paulo Freire. Seu papel na democratização do conhecimento e no combate ao negacionismo e à desinformação foi ressaltado pelas palestrantes, a Profa. Ivana Bentes (UFRJ e FORPROEX), a Profa. Magê Porém (ProEC/UNESP), e, na mediação, o Prof. Luís Geraldo P. Meloni (ProEEC/Unicamp), que insistiram na importância da consolidação de canais e estruturas de comunicação ligados à extensão. “Precisamos desenvolver uma comunicação que se some à luta contra a desinformação. A gente vem falhando, e isso é urgente.”, afirmou Magê Porém. Da mesma forma, Ivana Bentes pontuou: “O negacionismo científico mata. Essa lição nós aprendemos na pandemia”.

Magê Porém trouxe os conceitos de “comunicação pública” e “comunicação integrada”, refletindo tanto sobre a complexidade dos conteúdos produzidos quanto sobre suas diferentes funções e peculiaridades. Se, por um lado, a comunicação institucional tem como desafio a reputação da instituição, a comunicação extensionista busca ferramentas para dialogar com a comunidade. Sendo estas apenas duas das múltiplas camadas envolvidas no processo. “A divulgação científica não é trabalha com transmissão de informação; ela é informação que transforma”, Magê.

Ivana Bentes destacou a formação em cultura digital e programas como o Pop Ciência do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) como fundamentais nesse processo. “O MCTI e o Departamento de Popularização da Ciência estão muito alinhados com os valores extensionistas”, afirmou. 

Ivana Bentes durante sua fala no Forproex Sudeste.
À esquerda, Magê Porém (ProEC/UNESP), mediando a mesa Luís Geraldo P. Meloni (ProEEC/Unicamp).

Cultura, esporte e transformação social

Encerrando o ciclo de mesas, esta última abordou a transversalidade da cultura e do esporte nas práticas extensionistas. O painel discutiu como essas dimensões se articulam ao desenvolvimento social e à construção de políticas públicas participativas, reforçando o papel da universidade como agente de transformação nos territórios onde atua.

Participaram da mesa Renato Barroso, diretor de Esporte da Unicamp; Sylvia H. Furegatti, diretora de Cultura da Unicamp; e, na mediação, Fernando Coelho, pró-reitor da ProEEC. Sylvia abordou, em sua fala, os editais contemplados pela pró-reitoria que “buscam abraçar a diversidade e pluralidade das expressões culturais presentes na universidade”. “Além disso, em parceria com o Banco Santander, existem editais internacionais que interligam estudantes com a América Latina e Caribe, estreitando o eixo Sul-Sul”, concluiu Sylvia, que foi responsável pela criação do Seminário Brasil-Cuba, que aconteceu nos dias 25 e 26 de março e abordou essa temática de maneira mais aprofundada. 

Por fim, Barroso reforçou que a diretoria de esportes ainda é recente na universidade, mas destacou as ações já realizadas nesses quase dois anos, como o apoio aos treinos de diversos esportes oferecidos no Ginásio Multidisciplinar da Unicamp (GMU), as corridas e as integrações. Dentre as atividades programadas, Barroso salientou o Festival Paralímpico, que começa em maio, e as atividades que estão sendo realizadas em parceria com a Liga das Atléticas (LAU).

À esquerda, Sylvia Furegatti (Diretora de Cultura/ProEEC), mediando a mesa Fernando Coelho e, à direita, Renato Barroso (Diretor de Esportes/ProEEC).

Além dos painéis interativos, mesas de debate e trocas de experiências, ocorreu a eleição para a Coordenação Regional no Fórum. Foram eleitos como Coordenador e Vice-Coordenadora da Regional Forproex Sudeste, o Pró-Reitor de Extensão da UFMG, Glaucinei Correa da UFMG e a Pró-Reitora de Extensão da UERJ, respectivamente.

Os então coordenadores da Regional Sudeste do Forproex, Fernando Coelho (à direita) e Rosa Maria Marcos Mendes (à esquerda), que representou a coordenadora Ivana Bentes, passaram os cargos de Coordenador e Vice-Coordenadora para o Pró-Reitor de Extensão da UFMG, Glaucinei Corrêa, e para a Pró-Reitora de Extensão da UERJ, respectivamente.
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