Texto: Ana Ornelas | Revisão: Felipe dos Santos | Fotos: Lúcio Camargo
Os acontecimentos em Brumadinho e Mariana e as enchentes no Rio Grande do Sul são diferentes em contexto, porém expõem uma mesma realidade: o clima castiga, mas não atinge todos da mesma forma. Essas tragédias têm cor, classe e território. É com esse alerta que, no dia 2 de junho, a partir das 9h, no Centro de Convenções da Unicamp, será realizado o Fórum Permanente “Racismo Ambiental e Emergência Climática”. O evento reunirá pesquisadores, lideranças quilombolas, indígenas e especialistas para discutir por que os desastres ambientais afetam sempre os mais vulneráveis e o que pode ser feito para mudar esse cenário.
O termo “racismo ambiental” foi utilizado pela primeira vez nos Estados Unidos, na década de 1980, em resposta aos protestos contra depósitos de resíduos tóxicos em comunidades negras no condado de Warren, na Carolina do Norte. Nesse contexto, o ativista afro-americano Benjamin Franklin Chavis Jr. cunhou a expressão, que passou a representar a injustiça ambiental direcionada a grupos racializados.

Para Maíra Silva, pesquisadora quilombola, doutoranda no Instituto de Geociências (IG) da Unicamp e uma das organizadoras do evento, discutir racismo ambiental é também uma forma de resistir a retrocessos legislativos e ambientais no país. “Essas desigualdades sempre existiram, mas hoje o clima se tornou um agravante. Deslizamentos, inundações, ondas de calor, tudo isso afeta com mais intensidade as populações já vulnerabilizadas. Segundo dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), em 2022, 76% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil vieram do desmatamento e do setor do agronegócio. Ao mesmo tempo, estamos vendo propostas de desmontes da legislação ambiental. O fórum vem exatamente nesse momento crítico, como uma resposta coletiva”.
A proposta do fórum surgiu a partir da articulação de diferentes comissões assessoras da Unicamp, como a Comissão Assessora de Mudança Ecológica e Justiça Ambiental (Cameja), a Comissão Assessora de Diversidade Étnico-Racial (CADER) e a Comissão Assessora Para Inclusão e Participação dos Povos Indígenas (CAIAPI), junto a pesquisadoras negras e indígenas que têm debatido o racismo ambiental dentro e fora da universidade.

Sônia Regina de Cal Seixas, professora do Doutorado em Ambiente e Sociedade do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e também organizadora do evento, destacou a importância de dar nome ao que, há muito tempo, aflige determinadas populações. “Quem são os mais atingidos quando ocorre um desastre ambiental? São as populações negras, as mulheres, os periféricos. Precisamos ultrapassar essa barreira de silenciamento e reconhecer que existe, sim, um racismo ambiental em curso. É urgente dar nome ao que nos impacta”.

Para Amasa Ferreira Carvalho, professora visitante da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp, um dos grandes problemas é o caráter estrutural que permeia a questão. “Não se trata apenas de uma emergência climática, mas de desigualdades históricas que continuam sendo aprofundadas. Povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e moradores de periferia são os que mais sofrem, mas que menos têm acesso aos espaços de decisão. O diferencial deste fórum é colocar essas vozes no centro do debate”.
A realização do evento, segundo as organizadoras, também marca o posicionamento da universidade diante de temas urgentes e globais.“A Unicamp tem um papel histórico nas lutas democráticas. E discutir justiça climática hoje é discutir democracia, é pensar em futuro, é ouvir quem historicamente foi silenciado”, disse Maíra.
PARA PARTICIPAR, FAÇA SUA INSCRIÇÃO: https://extecult.proec.unicamp.br/evento/43/inscrito/novo