Texto: Ana Ornelas | Revisão: Felipe dos Santos | Fotos: Entidade EnE (Economia nas Escolas)
Criado por estudantes do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, o projeto de extensão Economia nas Escolas (EnE) surgiu em 2018, em meio a um cenário político conturbado no país. Oficialmente estruturado como entidade em 2019, o projeto visa aproximar o ensino superior público de jovens da rede pública de ensino básico. Atualmente com 45 membros, a iniciativa busca romper o distanciamento entre universidade e periferia por meio de aulas sobre economia, cidadania e direitos sociais. Ganhador do Edital PEX 2023, promovido pela Pró-reitoria de Extensão, Esporte e Cultura (ProEEC), o EnE se propõe a levar conhecimento acessível e crítico a adolescentes historicamente marginalizados pelo sistema educacional.
Segundo João Pedro Hungaro Cruz, atualmente o membro mais antigo do projeto, a iniciativa surgiu da preocupação dos estudantes com o abandono histórico das escolas públicas. “A educação básica está muito sucateada e, pelos líderes políticos que a gente via naquele momento, ninguém dava atenção a isso como deveria”, relembra. Para ele, a fundação do EnE representou um compromisso com a transformação social a partir do conhecimento. “A gente, como estudante de universidade pública, entendeu que tinha a obrigação de compartilhar o que aprendia com os estudantes do ensino básico, que são sempre marginalizados”, afirma.

A trajetória do projeto passou por dificuldades até alcançar a estrutura atual. Durante a pandemia, o EnE quase chegou ao fim por falta de membros ativos. “Chegamos a ter menos de dez integrantes. Os poucos que ficavam tentavam manter as atividades, mas era difícil. As escolas estavam fechadas ou sem estrutura para nos receber, e os conteúdos acabaram migrando para vídeos explicativos”, conta João. A retomada veio com o retorno das aulas presenciais e a entrada de novos voluntários, o que permitiu a criação de um estatuto próprio e a divisão do projeto em cinco áreas organizacionais: conteúdo, marketing, recursos humanos, financeiro e administração. Embora os membros atuem cada um em uma dessas frentes, todos são incentivados a participar das aulas nas escolas, ainda que não estejam diretamente envolvidos na ministração dos conteúdos.
Foi nesse processo de reestruturação que Ana Carolina Fernandes Nazareno ingressou no projeto. Estudante de Economia e ex-aluna do Programa de Formação Interdisciplinar Superior (ProFIS) da Unicamp, voltado a estudantes de escolas públicas de Campinas, ela se viu representada na proposta do EnE. “Para mim, o curso de economia era aquela visão comum, do mercado financeiro e da bolsa de valores. Não era algo que se conectava com a minha realidade”, conta. Com a vivência no projeto, Ana passou a enxergar o ensino da economia como ferramenta de cidadania. “Muitas vezes, nem os próprios professores sabem como algumas coisas funcionam. E os alunos, quando escutam sobre a Unicamp, surpreendem-se. Eles não acham que têm chance. Mas, quando a gente chega, essa barreira começa a cair”.

Apesar de, atualmente, atuar em apenas uma escola de Campinas, o EnE também já chegou a outros espaços, como o 28º Batalhão de Logística, ministrando conteúdos sobre matemática financeira. O material didático é produzido coletivamente, em forma de apostila, com temas que vão desde história econômica e desigualdade até direitos constitucionais. Para Victor Augusto Brotero, outro membro da equipe, “a ideia é mostrar que a economia está presente em tudo: na política, na saúde, na estrutura da sociedade”. “A gente quer que os alunos entendam que isso também faz parte da vida deles”, declara.
Segundo ele, a existência do EnE também tem um significado pessoal. “Minha mãe sempre dizia que, para eu ter um futuro, precisava estudar em escola privada. Não por escolha, mas por falta de opção. E isso me marcou”, revela. Ao ingressar no projeto, viu a oportunidade de contribuir para um futuro mais justo. “Se queremos que o Brasil tenha, um dia, um ensino público de qualidade, isso precisa começar com atitudes individuais. Eu acredito que o EnE é uma dessas atitudes”.