Texto: Ana Ornelas | Fotos: Dário Crispim
Com a proposta de transformar muros em galeria a céu aberto, o “Festival Ocre – Ruas que Contam Histórias” chega à Unicamp com uma intervenção artística no Hospital de Clínicas (HC). Idealizado pela artista plástica e arquiteta Gim Martins, o projeto reúne 12 artistas que representam diferentes linguagens da arte urbana, como graffiti, muralismo, stencil, lambe-lambe, escultura e mobiliário urbano.
Todas as obras estão conectadas por um mesmo tema (Ruas que Contam Histórias) e propõem reflexões sobre memória, cotidiano e identidade dos espaços urbanos. Após ocupar o centro de Campinas em sua primeira edição, o festival expande seu percurso em 2025, incluindo o campus de Barão Geraldo no mapa de atuação. A presença na Unicamp reforça o elo entre arte, educação e território.
Segundo Renata Marangoni, arquiteta da Pró-reitoria de Extensão, Esporte e Cultura (ProEEC), a articulação começou no ano passado, quando a atual pró-reitora Sylvia Furegatti ainda atuava como diretora de cultura. “Na ocasião foi assinada uma Carta de Anuência, já com a proposta de intervenção naquele mural específico. Nós fizemos a articulação, fomos atrás de formalizar e viabilizar esse diálogo entre os artistas e a universidade”, contou.

Embora o local escolhido não seja a entrada principal do HC, a arquiteta destaca a relevância simbólica e cotidiana da área. “A arte urbana é acessível a todos. Ela não está dentro, ela está fora. Você não precisa pagar para ver. Ela conversa com quem convive com arte e com quem nunca teve esse contato também.”
Responsável pelo mural do HC, o artista Fabiano Carriero explica que sua proposta foi pensada a partir de três esboços, sendo escolhido aquele que dialogava de forma mais sensível com o espaço hospitalar. “O desenho traz a frase ‘Não pare, tem flores na rua’. É uma inversão simbólica: ao invés de proibir, convida a seguir adiante. É um convite para perceber a beleza no caminho, mesmo em meio às dificuldades”, afirmou.
Carriero acrescenta que as cores da obra também foram escolhidas para se integrar ao ambiente. “O verde, por exemplo, remete à paleta do próprio hospital. Como é uma área de circulação de médicos e funcionários, a ideia foi trazer uma mensagem de esperança e cuidado para quem chega ali todos os dias”, explicou.

O mural do HC tem 40 metros de comprimento por 4 de altura e está sendo executado em tinta acrílica. “De longe parece menor, mas quando você chega perto percebe a dimensão. É um desafio físico também, porque exige resistência e técnica, mas é muito legal ver a obra estampada no local.”
A proposta não se limita à pintura. O mural contará com recursos de realidade aumentada, acessados por meio de um QR Code instalado no local. Ao apontar a câmera do celular para a obra, o público poderá visualizar elementos digitais interagindo com a arte física, ampliando a experiência entre o espaço urbano e o universo virtual. Como parte das ações de acessibilidade, o mural também terá uma placa com informações em braille e audiodescrição, integradas ao mesmo QR Code, permitindo que mais pessoas possam vivenciar o trabalho de forma sensorial e inclusiva.
Após a conclusão das intervenções, o festival promoverá visitas guiadas aos murais espalhados pela cidade. Os roteiros incluem mediação artística, intérprete de Libras e mapas com informações sobre os artistas e as obras. A proposta é oferecer uma experiência imersiva, gratuita e acessível, fortalecendo o diálogo entre arte, espaço público e comunidade.